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que vão desde o desconhecimento, até mesmo por par-

te de colegas, sobre a atuação do médico do trabalho, a

dificuldade para a manutenção de confidencialidade

de registros médicos e até mesmo pressão por parte de

alguns empregadores para que os médicos não notifi-

quem doenças relacionadas ao trabalho. Há relatos de

médicos que foram demitidos por fazerem a coisa certa.

Isso precisa ser mudado.

Jamb:

Existe algum tipo de intimidação?

MB:

Como não existe nenhum tipo de proteção ao exer-

cício da profissão neste ambiente, o médico que traba-

lha dentro de uma empresa, por exemplo, é emprega-

do e pode ser mandado embora a qualquer momento,

sem nenhuma justificativa, caso contrarie os interesses

da empresa. Diferente de outros países na Europa, por

exemplo, França e Itália, que protegem o trabalho do

médico. O médico do trabalho atua no fio da navalha e

precisa de muita habilidade para exercer sua profissão

fazendo o que é certo.

Jamb:

A residência médica atende integralmente a

formação do especialista?

MB:

Um dos desafios que temos é a melhoria da qua-

lidade da residência médica, já que o nosso modelo de

formação não se encaixa perfeitamente no modelo da

residência, que é focado em serviço. O médico do tra-

balho não aprende só dentro de um hospital ou de um

ambulatório, ele tem que obrigatoriamente ir aonde o

trabalhador está. A gente acaba sendo o médico que faz

uma atenção integral ao trabalhador; assim, o segundo

grande desafio é ter um conhecimento básico de quase

todas as especialidades.

Jamb:

Quais são as competências necessárias para o

especialista?

MB:

As competências para o exercício da medicina do

trabalho são basicamente dividas em seis domínios: o

estudo da saúde; a capacidade de estudar o trabalho; o

domínio da gestão e das políticas; a promoção e educa-

ção em saúde; o domínio das competências transver-

sais e que envolvem o trabalho em equipe, liderança,

comunicação. Eu deixei o primeiro por último de propó-

sito, porque o primeiro é o coração que faz tudo isso gi-

rar, que está no centro dos domínios, que é exatamente

o domínio do profissionalismo e do juízo moral, compe-

tências essenciais na sociedade atual.

Jamb:

Você está entrando agora no segundo ano da

gestão. Qual é a avaliação de seus aproximadamente

primeiros 300 dias?

MB:

É uma avaliação positiva. Nós fizemos um balan-

ço geral com 180 dias: conseguimos reestruturar toda

a área administrativa e financeira da associação; refor-

mulamos todo o conselho técnico, de forma participati-

va; melhoramos muito a

Revista Brasileira de Medicina

do Trabalho

; já fizemos eventos, todos são transmitidos;

definimos uma série de cuidados para a educação conti-

nuada com alcance e qualidade. Talvez o resultado mais

evidente seja o reconhecimento dos não associados que

se tornaram associados. Nesses 180 dias, tivemos um

crescimento de 13% no quadro associativo. Numa época

de crise, é bastante.

Jamb:

E daqui para frente?

MB:

A gente só quer crescer, eu quero chegar a 5 mil

associados em pelo menos um ano e meio. Também es-

tamos preparando um grande congresso para 2019, que

será em Brasília. Outro desafio é fazer parcerias interna-

cionais que nos ajudem a dar visibilidade para as coisas

boas que a gente faz aqui e a fazer melhor aquilo que a

gente não faz tão bem.

Jamb:

E o aniversário de 50 anos da ANAMT?

MB:

O professor Oswaldo Paulino, primeiro presi-

dente da ANAMT, carregava a entidade dentro de

uma mala, em 1968. Ele tinha todos os documentos

dentro de uma maletinha e passou quase cinco anos

visitando todos os estados do Brasil para semear a

capilaridade da associação em cada um desses esta-

dos. Hoje, vendo a ANAMT chegando às vésperas dos

50 anos, alcançando milhares de médicos do traba-

lho e outros tantos profissionais que se unem a nós

para discutir saúde e trabalho, dá muito orgulho do

que foi construído. Mas queremos muito mais. Que-

remos contribuir não só para a medicina do trabalho,

mas para a saúde dentro de um desenvolvimento

sustentável do Brasil.

Entrevista

MARÇO/ABRIL 2

017

JAMB

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