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Jamb:

Qual é o potencial da medicina do trabalho para a

promoção da saúde do trabalhador?

Marcia Bandini:

Segundo o IBGE, há uma população

economicamente ativa, formal, de 47 milhões de tra-

balhadores. São quase 50 milhões de brasileiros que fa-

zem exames médicos ocupacionais todos os anos. Eles

fazem esse exame para avaliar se estão aptos ao traba-

lho, mas vale lembrar que um atestado de saúde ocu-

pacional não é um papel, ele é uma representação de

um ato médico, que precisou considerar a saúde desse

indivíduo frente ao trabalho e às atividades que ele faz.

Todo esse envolvimento que hoje tem um foco muito

específico poderia ser ampliado se fosse também vol-

tado para a promoção da saúde. Nas grandes empresas,

onde tem mais recursos, onde há uma cultura mais vol-

tada para a saúde integral, a gente já consegue ver bons

resultados. A ANAMT criou uma comissão técnica de

promoção da saúde. Acabamos de assinar uma parceria

com a Universidade Harvard para trazer instrumentos

e ferramentas internacionais para o Brasil. A promoção

da saúde está ganhando esse espaço. O potencial que

temos de promover a saúde, reduzir custos para a popu-

lação em geral, a partir da boa prática da medicina do

trabalho, é imenso.

Jamb:

Recentemente a ANAMT realizou uma pesquisa

com sócios e não sócios. O que ela revelou?

MB:

Ela aprofundou questões importantes, como o co-

nhecimento sobre expectativas da categoria, e nos trou-

xe alguns indicativos valiosos para nossa gestão, como

a necessidade da educação continuada e da defesa pro-

fissional. Algumas relações de trabalho, do ponto de

vista de contrato, com o médico do trabalho são muito

fragilizadas e os depoimentos emocionaram. Estamos

sensíveis e atentos a isso.

Jamb:

Osmédicos do trabalho sãodevidamente valorizados?

MB:

Do ponto de vista de reconhecimento do seu papel

social, eu diria que não. Quanto à remuneração, depen-

de muito de onde ele está inserido profissionalmente.

E isso também sofre influências regionais dentro do

Brasil. Hoje, os profissionais enfrentam dificuldades

Entrevista

Marcia Bandini,

presidente da ANAMT

Rodrigo Aguiar

Revista Proteção/Valdir Lopes

M

arcia Bandini é doutora pela Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo (USP)

e atua na área de saúde do trabalhador desde

1994. Além de especialista em Medicina do Trabalho

também possui título em Medicina do Tráfego. Participou

ativamente das associações representativas desde 1999, como diretora da Associação Paulista

de Medicina do Trabalho (APMT), da Associação Brasileira de Promoção da Saúde (ABPS) e da

Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). É membro da International Commission on

Occupational Health (ICOH) desde 2003.

No refeitório da Faculdade de Saúde Pública da USP, onde havia participado de um encontro sobre

Determinantes Sociais de Saúde, a atual presidente da ANAMT concedeu entrevista exclusiva ao

Jamb. Sem se esquivar de nenhum assunto, ela falou sobre sua trajetória, a importância do médico

do trabalho e também sobre os desafios da entidade que dirige e que completará 50 anos em 2018.

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JAMB

MARÇO/ABRIL

2017