ao mesmo tempo em que houve abertura de novas es-
colas médicas, mas sem aumento de hospitais univer-
sitários de qualidade. Muitos deles apresentam sérios
problemas de infraestrutura, falta de material, recur-
sos humanos. Muitas dessas escolas também não têm
hospital-escola, e o jovem médico tem um enorme dé-
ficit de formação na graduação. Por isso, é importante
vistoriar os serviços, garantindo qualidade mínima na
formação dos residentes. Também não adianta formar
médicos em quantidade. É melhor formar médicos
qualificados com as melhores práticas do que vários
médicos desqualificados que irão solicitar demandas
exageradas de exames e gerar possíveis complicações
de saúde em pacientes tratados de forma inadequada.
Jamb:
É possível comparar a nossa residência com a de
outros países?
Taniguchi:
Há países com uma exigência maior em re-
lação à qualidade da formação, e não existe a sobrecar-
ga desumana como vista aqui, onde não é respeitada a
carga máxima de 60 horas por semana, fazendo alguns
jovens atingiremmais de 100 horas. Além disso, alguns
países desenvolvidos favorecem o residente com cres-
cimento na carreira, propiciando que se dedique à sua
completa formação.
Jamb:
O residente ainda é uma mão de obra barata?
Taniguchi:
Sim, e em muitos lugares. Percebemos, po-
rém, que isso diminui quando há uma organização in-
terna dos próprios médicos residentes. Em locais onde
existem associações organizadas e participativas, con-
segue-se garantir melhores condições. Ou seja, este é o
caminho: sem organização, o residente não terá uma
forte representatividade e direitos garantidos.
Jamb:
O médico residente pode ser sinônimo de muito
trabalho e baixa remuneração.
Taniguchi:
Ahora trabalhadadomédico residente emSão
Paulo, por exemplo, é de aproximadamente R$ 11,00,muito
aquémde outros profissionais que não têm a necessidade
de uma graduação tão elevada. Afora a cobrança como se
houvesse vínculo empregatício, ao mesmo tempo é nega-
do ao residente direitos empregatícios. E o pior: emmuitos
lugares,sema garantia de aprendizado de qualidade.
Jamb:
O que tornaria a vida de um residente um sonho
realizado?
Taniguchi:
O conjunto envolvendo remuneração,
carga horária de trabalho e aprendizado, infraes-
trutura e preceptoria. O ideal seria que o médico
residente tivesse uma dedicação exclusiva; porém,
com o valor pago hoje, ele não consegue sobreviver,
principalmente nos grandes centros onde o custo
de vida é alto. Se em todos os lugares houvesse uma
bolsa como a oferecida em alguns programas de re-
sidência de Medicina de Família e Comunidade no
valor de R$ 10 mil mensais, além de orientação com
preceptoria de qualidade e carga adequada para os
estudos, poderíamos dizer que seria o ideal para o
residente consolidar a sua formação e aprendizado.
Jamb:
E quanto ao futuro?
Taniguchi:
Nos últimos 10 anos, a ANMR vem cres-
cendo graças ao trabalho contínuo de várias gestões.
A entidade tem forte potencial na cultura associativa,
haja vista a grande participação do residente em en-
tidades estudantis durante a graduação, como a Asso-
ciação dos Estudantes de Medicina do Brasil (Aemed-
-BR) e a Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de
Medicina (Ablam). Dessa forma, contribuiremos para
a continuidade e o fortalecimento cada vez maior do
setor associativo médico brasileiro.
Entrevista
Flávio Taniguchi (ao centro) com os ex-presidentes da ANMR: José
Bonamigo (à esq.), Diogo Sampaio (ao centro) e Nívio Moreira (à dir.)
César Teixeira
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